Um amigo disse a frase acima, certa vez, enquanto discutíamos sobre privacidade na internet. A analogia ilustra a ingenuidade de muitos de nós ao postar fotos, comentários, opiniões ou mesmo “curtidas” nas redes sociais.
Seguindo com a analogia: suponha que o síndico fixe o seguinte recado no quadro de avisos do condomínio:
“Informamos que, durante o período de férias do Sr. José Porteiro, traremos um funcionário temporário para trabalhar na portaria do condomínio. Durante esse período pedimos a todos os moradores que se identifiquem, informando o nome e o número de seus apartamentos para verificação na entrada.”
A mensagem contém informações relevantes para os moradores do condomínio, mas também podem ser úteis para pessoas mal-intencionadas. Um bandido, de posse dessa informação poderia se passar por um morador, acessar o condomínio e fazer um belo estrago…
“Mas um ladrão não teria acesso a essa informação! O recado está afixado no quadro de avisos dentro do condomínio.”
É mesmo? Pense mais um pouco… Quem, além dos moradores, pode acessar o condomínio?
Visitas dos moradores,
Diaristas e faxineiras que trabalham nos apartamentos,
Funcionários de concessionárias de luz, água e gás,
Pedreiros, marceneiros, pintores e outros profissionais trabalhando em obras no condomínio,
Técnicos de telefonia e TV a cabo.
De repente, o recado do síndico deixa de ser privado: o meio usado para transmitir a mensagem permite que ela chegue a pessoas que não deveriam. Na internet, fazemos isso com frequência.
Não quero abordar aqui as discussões recentes sobre as violações de privacidade por órgãos do governo ou o rastreamento imposto por sites para vender anúncios direcionados (fica para um próximo post). O ponto aqui é fazer uma reflexão sobre como estamos dispostos a abrir mão voluntariamente de nossa vida privada em troca de likes ou retweets.
Ninguém está livre disso: fazem parte da dinâmica das redes sociais o ato de publicar e o de acompanhar a repercussão da publicação. E muitas vezes, no anseio de conseguir mais “likes”, somos mais polêmicos, mais ousados… Quem nunca se agarrou em uma polêmica pra “esquentar” um pouco a discussão em uma roda de amigos?
É óbvio: cada um é responsável pela própria vida, e não existem regras de conduta sobre o uso da Internet. Quer continuar postando fotos bêbado no Instagram? Vai fundo! Quer desejar a morte daquele político no seu próximo post no Facebook? Fique a vontade! Quer contar para o mundo que você e sua família acabam de chegar na casa de praia para uma merecida semana de férias? A vida é sua! Mas é importante estar ciente das consequências:
Empresas usam perfis de candidatos a emprego nas redes sociais para descobrir como essas pessoas se comportam: são leais? pontuais? confiáveis? educados?
No início do relacionamento, um possível interesse amoroso pode pesquisar seus gostos pessoais, opiniões, como se comportou em antigos relacionamentos: já traiu? como reagiu ao término de relacionamentos anteriores?
Você pode ser alvo de processos ou investigações judiciais por postar conteúdo preconceituoso, ofensivo ou calunioso na internet, e seus posts e “likes” podem ser usados como evidências no processo.
Facebook e Instagram permitem que os posts sejam geolocalizados: indicações de localização em tempo real podem, por exemplo, dar pistas para bandidos de que sua casa está vazia.
Fotos de crianças na banheira ou na piscina são fofas! Mas tem gente por ai que vê essas publicações com “outros olhos”. Cuidado com a pedofilia!
Para termos uma experiência mais saudável e segura, portanto, devemos encarar o aspecto “social” da rede não como “interação entre pessoas”, mas como “interação com a sociedade”. A forma como nos expomos constrói nossa imagem social na internet. É hora de começarmos a nos preocupar com o que colocamos nesse quadro de avisos…
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